Não é fácil, segundo os entendidos, concluir-se quando terá sido construído
o primeiro Castelo de Serpa. A povoação, segundo se crê pelas descobertas
arqueológicas que se tem vido a fazer, remonta a muitíssimos anos antes da
conquista do Castelo pelos Portugueses.
De formato quadrilátero o Castelo Velho, situa-se do lado nordeste, junto à
primeira cintura de muralhas. A Torre de Menagem é o seu ponto mais alto, logo
seguido da Torre do Relógio, que em tempos foi parte do Castelo.
O dado histórico que conhecemos acerca da “Vila” de Serpa tem início na sua
primeira conquista aos Mouros, por D. Afonso Henriques, em 1158 com a ajuda dos
Cruzados.
Várias vezes perdida para os Mouros e outras tantas conquistadas, passa
para a Coroa Portuguesa em 1232, no Reinado de D. Sancho II que concedeu o
senhorio de Serpa a D. Fernando, seu irmão que nela viveu e que veio a ser
conhecido pelo Infante de Serpa.
Após algumas atitudes contra a igreja D. Fernando foi excomungado pelo Papa
Gregório IX.
Após o casamento de D. Fernando com Dª. Sancha Fernandez de Lara, filha de
um Conde de Castela, ali ficou por aquelas terras, (Castela) nada se sabendo
mais, acerca da sua vida.
Mais tarde com a suposta morte de D. Fernando passa a Vila de Serpa, para a
posse da Coroa Portuguesa.
Até ao Séc. XIII, nas várias disputas havidas com Castela perdeu Portugal,
as terras de aquém Guadiana, incluindo Serpa.
Em Maio de 1253, Afonso X de Castela inclui Serpa no dote de sua filha
Beatriz , por ocasião do casamento desta, com Afonso III de Portugal, com a
cláusula de que a posse definitiva só teria lugar quando o primeiro filho do
casal completasse 7 anos.
Cláusula que não cumpriu. (!)
Foi já no reinado de D. Diniz, em 6 Setembro de 1295, que foi acordada a
entrega definitiva da Vila e seu Termo ao Rei de Portugal.
Serpa, foi sempre um ponto de cobiça dos nossos
vizinhos, Castelhanos, mais tarde Espanhóis,* tanto pela sua situação
geográfica como por ser uma referência na Organização Militar do país. Não
obstante as constantes razias que as terras deste Concelho sofreram ao longo da
sua História, quer nas investidas da moirama, quer no período da Restauração,
ou ainda, durante as invasões francesas, aquela que se tornou mais brutal, foi
a perpetrada pelo Duque de Ossuna, durante a guerra de sucessão espanhola
(1702/1712).
Durante o conflito, mais propriamente em 26 de Maio de
1707, o Duque de Ossuna assaltou e tomou pela força, após meses de resistência
dos Portugueses, o castelo da Vila de Serpa. Um ano depois em 1708, quis a
sorte que as tropas espanholas fossem obrigadas a retirar-se desta vila,
contudo, não o fizeram sem causarem nas suas muralhas enormes danos.
Testemunhos? Os grandes torreões rochosos, mesmo à entrada do Castelo que ainda
subsistem, sendo um testemunho maior dos factos que então ocorreram. Também uma das portas da muralha, a Porta de
Sevilha foi destruída pelo Duque se Ossuna, na sua retirada da praça de Serpa, estas
mantiveram-se até 1780, altura em que ruíram, parte dos torreões que a
defendiam, até que, em 1871, caindo novo fragmento, foi deliberado apear o que
restava da antiga muralha por se considerar um perigo para a saúde pública.
Frente à Porta de Sevilha e na direcção da Rua da Fonte do Ortezim, a
antigamente denominada de Rua Larga, tomou para si a designação de Rua das Portas
de Sevilha, perpetuando assim a porta desaparecida.
O Castelo de Serpa foi classificado como Monumento
Nacional por decreto de 30 de Janeiro de 1954.(* abro aqui um parêntesis para
recordar que o país nosso vizinho só passou a designar-se por Espanha, após a
unificação dos vários reinos que a compõem a saber: Astúrias, Leão, Castela,
Galiza, Navarra e Aragão é portanto como país bem mais recente que Portugal)
As Muralhas de Serpa sofreram ao longo dos tempos
atentados de destruição como pode ser confirmado em documentos existentes no
Tombo da Câmara, como nos diz João Cabral, no seu livro “Arquivos de Serpa” e
que cito: «Por proposta do vereador José Ricardo Cortez de Lobão foi pedida,
superiormente, em 7 de Fevereiro de 1863, a demolição das muralhas que em
grande parte ameaçam ruína» mais adiante refere ainda: «Também o Dr. António
Joaquim Bentes, em 23 de Janeiro de 1864, na qualidade de presidente do Município,
propôs e foi aprovado que "se peça ao Governador de Sua Majestade e
concessão do forte denominado Castelo Velho e bem assim para poder destruir as
muralhas que circundam parte da vila por se considerarem contrárias à saúde
pública”» e ainda «Precisamente um ano depois o presidente lê dois
requerimentos pedindo as mesmas demolições, o que se repetiu em Julho de 1877».
Numa outra página do mesmo livro afirma ainda João
Cabral: «Em 1 de Fevereiro de 1917 foi deliberado demolir a parte da muralha,
que estava em ruínas, à Porta de Moura». Sabe-se ainda que em meados do séc.
passado foram as muralhas levadas a hasta pública para arrematação e posterior
demolição, o que felizmente não se concretizou por falta de licitadores. Já nas
últimas décadas do séc. xx sofreram as muralhas (ou parte delas) os trabalhos
de restauro que se impunha, devolvendo aos vindouros a possibilidade de
apreciar a sua beleza e magnitude.